sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Crescer [Por: César Augusto]


Por alguma razão que eu não sei explicar muito bem, o entardecer das sextas-feiras me são sempre melancólicos, alguma coisa (talvez o ar do fim do dia) me faz lembrar de coisas da minha infância que há muito eu havia esquecido e que nem sabia mais que ainda existiam em minha memória, certos cheiros (a memória olfativa é muito rica), certos lugares que não existem mais...



Frente a esta nostalgia eu comparo esses dois mundos, o que eu tive e o atual e compreendo que o avanço nos custou coisas que foram se extinguindo na lixa do tempo de maneira irrecuperável. Ganhamos muitas inovações, mas a impressão que tenho, é que perdemos muito mais, e que talvez fosse melhor por o pé no freio da vida e retroceder um pouco. Coisas que pareciam não ter nada de especial, tão comuns na nossa infância ganham um valor que só a satisfação pessoal poderia pagar. Senhoras e Senhores, eis o que eu queria:



Eu queria subir numa arvore com uma agilidade que já não tenho mais e comer goiabas do pé; Eu queria correr descalço a tarde toda entre as arvores, brincando com amigos que não requerem nada além da sua companhia, banhados pelo sol (que parecia bem menos causticante do que hoje, ou minha pele perdeu a qualidade que tinha?!). Eu queria tomar banho de rio e com a água a altura dos meus calcanhares observar maravilhado os peixinhos nadando entre meus pés;



Eu queria olhar o mundo e não saber que grande parte dele consiste em maldade onde crianças morrem arrastadas por carros em assaltos ou são jogadas pela janela pelos próprios pais; Eu queria olhar para a lua e ver novamente um astro mágico flutuando no céu escuro e não um satélite natural que reflete a luz do sol (porque algumas vezes a ignorância é uma benção); eu queria assistir ao filme “Tubarão” e ter real medo do peixe, porque achava que ele era verdadeiro; Eu queria voltar ao tempo em que minha preocupação era somente se eu iria conseguir pegar a bandeira o time vizinho brincando “bandeirante”, e não saber se meu dinheiro será suficiente para pagar as contas do mês, ou que futuro terei;



Eu queria correr de manhã pela praia e experimentar uma sensação de liberdade que há muito eu desconheço. Eu queria ter sabido que tive uma comunhão perfeita com Deus, porque nenhum pecado me afastava Dele. Até hoje anseio ter essa comunhão de volta. Quando estes desejos aparecem, o relógio da vida me olha de esguelha reprovando, mostrando que já não tenho tempo pra isso, e que agora essas coisas fazem parte do passado. Não me resta nada a fazer além de aceitar, afinal, o futuro também não está desprovido de surpresas boas, não é?
César Augusto

Mas, ah! Se eu pudesse...

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